Por que tão pentelho?

A respeito do mundo dos super-heróis já ouvi várias críticas. A maioria delas focada no excesso de fantasia revelado pelos contextos nos quais esses heróis se inserem. Costumo brincar quando alguém protesta ao presenciar uma cena muito irreal, dizendo que aquilo é apenas uma “licença poética”.

Sendo assim, fiquei espantado quando um crítico voltou-se exatamente contra aquilo que tem levado respeitáveis intelectos a se interessarem pelas adaptações cinematográficas das HQ’s: a busca pela verossimilhança. (Como diria Seu Jorge, “deu tiro no pé”.)

O jornal Folha de São Paulo publicou ontem (dia 29 de julho) em sua primeira página, a chamada para a matéria de João Pereira Coutinho (leia aqui a reprodução de toda a matéria):

“Para adulto equilibrado, Batman e Coringa são dementes de pijamas.”

Se não fosse a recente estréia de “Batman TDK”, poderíamos acreditar que o jornalista português estaria fazendo referência às caricatas versões para o personagem criadas nos filmes que vieram a partir do final dos anos 80. Mas João Pereira Coutinho (acho que ele não se importará se o chamarmos por “J.P.”) chega ao ponto de colocar em dúvida que a franquia renascida a partir de Nolan tenha criado algo superior à pajelança proposta pelos diretores Joel Schumacher e Tim Burton.

O polêmico jornalista mostra-se contraditório nas várias divagações que faz em seu texto. Em sua defesa, inicia um discurso tentando aproximar-se de seu interlocutor – na provável hipótese de que fosse "espiado" por algum fã de HQ, afinal nestes tempos “todos querem ser heróis” – negando que tenha algo contra os “vigilantes”.

Mas ressalta que existem duas premissas para que tais “vigilantes” tenham sua existência “autorizada” pelo notável jornalista português. Em tom de J. Jonah Jameson, o ranzinza editor-chefe do fictício “Clarim Diário”, J.P. impõe:

“Em primeiro lugar, [os vigilantes] só podem existir na tela, não na vida real. Na vida real, continuo a preferir o Estado de Direito, em que existem leis, polícias e tribunais, e não loucos ou beneméritos que gostam de fazer justiça com as próprias mãos.”

Disso podemos perceber o quão crível o Batman de Nolan tornou-se, a ponto de incomodar o jornalista português, que cita “Batman TDK” como uma fantasia intragável pelo fato de apresentar-se em “tom realista e até documental”.

Paradoxalmente, J.P. nega aos “vigilantes das telas” o direito a usarem “collants, máscaras, pinturas ou capas supostamente voadoras”. Mas vejamos bem: no Batman de Nolan, não há espaço para collants, a pintura borrada do Coringa tem uma defesa muito mais psicológica do que meramente estética, e a respeito de “capas supostamente voadoras” – convenhamos -, temos agora um Batman que não apenas se pressupõe morcego, como também quase voa, ele plana!

Mas o jornalista português deve ser perdoado pois demonstrou sua óbvia falta de percepção. Julgar o Coringa de Ledger “um vilão ridículo” tem tanto sentido quanto considerar o “pijama” negro do Batman “tão colorido” quanto o Coringa.

Talvez até dê para relevar a brincadeira de mau-gosto que fez o jornalista português ao associar à morte de Heath Leger sua atuação como o Coringa:

“Mas suspeito que Heath Ledger morreu de overdose porque, depois de assistir ao resultado, não agüentou a vergonha.”

O que não dá para perdoar é ter a paixão pelas histórias de super-heróis associada à impotência sexual:

“Sem falar dos fãs: homens feitos, alguns casados, que continuam a acreditar que um super-herói em pleno vôo compensa todas as ereções falhadas.”

Para concluir seu “textículo”, J.C. mais uma vez ofende o fã de quadrinhos, ao taxá-lo como desequilibrado.

Neste derradeiro parágrafo volto-me diretamente para o jornalista da Folha de São Paulo. Caro J.C., o mundo dos quadrinhos não tem culpa se você tinha que esconder-se de seus “amigos intelectuais” para ver o seu “Dirty Harry”, já que no cinema Richard Donner não o excitava o suficiente com a promessa de você iria “acreditar que o homem pode voar”.



Q+?: Reconsideração deste autor


Como fã e crítico de quadrinhos, enquanto meio cultural e artístico, tenho motivos para queixar-me da atenção exacerbada que o nosso país dá ao futebol. Temo que algum dia a metáfora “futebol arte” e o conceito “futebol é cultura” ganhem entendimento literal no Brasil.

Mesmo um pouco ressentido, devo assumir que menosprezar o apego sentimental que o torcedor de futebol tem pela camisa de seu time talvez não tenha sido uma boa idéia. Digo isso porque hoje senti na pele o que é ter uma referência estimada como exemplo do ridículo. Ao menos me contive a ponto de não comparar o traje futebolístico a uma roupa de palhaço. Pior seria se comparasse o mesmo traje a um pijama. (Antes fosse o pijamade sortede Heath Ledger.)

Q+ AINDA?: “Joãozinho” contra todos os super-heróis do mundo

O desprezo pelos super-heróis já é uma constante nas publicações do jornalista português. Se nesta última ocasião J.P. caçou briga com os fãs de quadrinhos, os impotentes, os desequilibrados e até mesmo com aqueles que curtem um pijaminha colorido, outrora o mesmo autor ousou ultrajar uma nação inteira.

Como redator da revista portuguesa Maximen, em edição publicada em 2004, J.P. introduziu seu pensamento relativo à formação do povo norte-americano como forma de explicitar a origem de seu desgosto pelo conteúdo das comics:

"Considero, de um modo geral, que a influência cultural americana é nociva à Europa e que a sua bastardia, ultra kitsh devido à sua quase completa ausência de raizes - e, por vezes, mesmo revoltosa contra as próprias raizes milenares do seu sangue, ou não fossem os Americanos, em grande parte, descendentes de europeus repelidos pela e zangados com a Europa - deve ser sempre colocada em segundo plano quando concorrer com a europeia."

7 comentários:

    Aê cara.

    Texto legal! =]

    Aproveitei a visita e added o blog de vcs em "hq" na lista de links do meu.

    Big abraço

    On quarta-feira, julho 30, 2008 Anônimo disse...

    Esse cara é um ridículo. Acabou ganhando espaço de tanta raiva que causou na gente... rs.
    Belo site, também vou adicionar aos meus links lá do Cumê...

    Marcelo Salgado
    Valeu pela visita ao Cumê! (www.cumecamao.com.br).

    Aproveito a deixa para expor outras opiniões a respeito do "esculacho" do J.P.

    Estas foram publicadas na "Folha Online":

    http://www1.folha.uol.com.br/folha/paineldoleitor/ult3751u427557.shtml

    Valeu, galera! ;-D

    On sábado, agosto 02, 2008 Anônimo disse...

    Meu deuss
    esse cara eh um ridiculo...
    eu como fã do heath ateh uma falta de respeito o q ele falo sobre a morte dele.. pq com certeza ele foi o melhor coringa ateh hj..
    E se esse ridiculo tah eh tentando chama atenção, pq ateh agora só ouvi elogios em relação ao filme e principalmente ao ledger...
    e se nao gosto q guarde a opinião pra ele..


    ;)

    Este comentário foi removido pelo autor.

    On quinta-feira, agosto 14, 2008 Anônimo disse...

    Texto de muito mal gosto, mta falta de respeito com os fãs, com quem gostou do filme, e até com os familiares de Heath Ledger, acho q devemos sim ter opiniões e até expressá-las, mas saber como fazer isso! acho q a educação e o respeito deve vir acima de tudo!

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