Nada se Cria...

Ou "O universo dos super-heróis em Hancock”
ATENÇÃO: este texto está “recheado” de spoilers!

Algumas “criações” pecam por copiar descaradamente. Outras pecam ainda mais por fingir que nada copiam. O trunfo de “Hancock” é assumir-se como uma paródia com vida e estilos próprios.

“Hancock” busca referências nas clássicas mitologias (anjos, divindades, deuses – a indicação mais forte desta prática pode ser observado na adoção, pelo herói, de um símbolo para defini-lo como tal, o símbolo de uma animal, um pássaro, utilização que se verifica associada às mais díspares religiões) e nisso busca harmonia com célebres clichês dos super-heróis.

Se em um mundo onde são constantes as manchetes sobre desastres, violência e caos fica fácil explicar o “nascimento” de um herói, o difícil torna-se explicar a origem dos poderes de um super-herói de forma verossímil. Assim o caminho acertado é o de justificar tais poderes através de uma revelação final e não como ponto de partida da narrativa. Não é necessário explicar em detalhes. “Hancock é um deus? Ah, agora entendi...”

Trailers já apontavam reverências óbvias ao universo dos super-heróis. Hancock apanha o veículo dos assaltantes em fuga e chuça o carro em um obelisco de um prédio de Los Angeles – talvez seja essa uma homenagem à cena abortada de “Homem-Aranha”, onde o “atirador de teias” prende o helicóptero de criminosos entre as duas torres do World Trade Center, outrora também um “monumento” norte-americano.

Não podemos deixar de lembrar que para existir um super-herói, deve sempre existir um super-vilão (como bem teorizou o personagem de Samuel Jackson em “Corpo Fechado”) ou um super-problema. Nesse aspecto a divulgação de “Hancock” deu poucas pistas.

Mas não há como criar um super-herói sem tomar como referência o maior de todos os heróis do gênero. Se o uniforme de Hancock traz a lembrança dos X-Men de Bryan Singer (e Hancock dá o troco no Ciclope – usar roupa de couro agarrada ao corpo não é muito mais másculo do que vestir o uniforme azul e amarelo da série animada), quase que todas as outras referências tendem a Superman.

Qualquer pessoa sabe qual é a fraqueza do Super-Homem. Diferentemente, a maior fraqueza de um simples homem é a mulher. Superman e criptonita são o que restou de um planeta extinto. Apesar de terem uma mesma natureza, não existe algo que faça mais mal ao Homem de Aço do que a famigerada pedra verde. Também podemos dizer que o maior inimigo de “Hancock” é uma “criptonita”, que não é verde, mas belamente loira.

E o nosso novo “Black Superman” não apenas tem super-força e o poder de voar. A expectativa que é criada com o seu salto de um prédio, no final do filme, está muito próxima da preparação para o salto de Batman, exibida nos trailers de Christopher Nolan.

“Hancock” é tudo. Tudo quando tendemos a classifica-lo quanto ao gênero: um drama com pitadas de comédia, passando por empolgantes seqüências de aventura. Mas é principalmente tudo quando tentamos defini-lo como uma história de super-herói. “Hancock” copia bem e torna-se único, deixando o pressentimento de que ainda será bastante copiado.

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