BHQ+ na BIG-BH
domingo, 7 de setembro de 2008 by Anônimo
Da mesma forma como é forte a influência oriental no contemporâneo cenário das artes gráficas, a influência black, através do movimento hip-hop tem assumido importantes papéis no universo audio-visual.
Infelizmente os quadrinhos ainda não têm manifestado criativas refleções apartir do hip-hop e de sua máxima expressão enquanto manifestação estética - o grafite.
A seqüência de obras apresentadas nessa última semana durante a I Bienal Internacional de Grafite de Belo Horizonte (BIG-BH) foi precedida por um extenso painel dedicado a expor as bases históricas de expressões artísticas similares ao grafite que é hoje estampado nos centros urbanos e periferias das grandes cidades.
A sucinta apresentação, intitulada "Módulo Histórico", teve a curadoria do artista Piero Bagnariol. Em suma, Piero mostrou que desde a pré-História das pinturas rupestres, pichação e grafite sempre estiveram intimamente ligados.
Grafite é o termo com o qual batizou-se a técnica onde uma camada de pintura é arranhada de modo a revelar partes da camada à qual está sobreposta. A pichação surgiu na Antiguidade, quando alguns indivíduos utilizaram-se do grafite para complementar ou mesmo corromper ilustrações e/ou inscrições registradas em espaços públicos. Hoje em dia faz parte a atuação dos grafiteiros em projetos de intervenção urbana - projetos oficiais, diga-se de passagem.
Através do painel metalinguístico Piero Bagnariol lembrou que a primitiva técnica com a qual nossos antepassados registraram suas mãos nas paredes de grutas e cavernas é equivalente àquela com a qual os grafiteiros deixam na cidade textos e desenhos a partir de moldes prontos.
Outros marcantes registros da humanidade têm incrível semelhança com a técnica de grafite. As gigantescas imagens "desenhadas" nos campos de Nazca, no México, foram criadas a partir da raspagem do solo. No cenário geopolítico o grafite já ilustrou célebres muros, como o de Berlim e o da Palestina.
Se até o final da década de 90 era uma constante a referência do grafite aos cartoons, hoje essa referência é feita aos grande rivais desse gênero de ilustrações, os mangás.
Personagens de proporções exageradas, expressões faciais extremamente dramáticas, e o rotineiro culto aos robôs e mecanismos tecnológicos são o grande mote do grafite contemporâneo. Nesta BIG-BH foi exposto o painel "Os Iconfidentes", onde os notórios participantes da "Santa Ceia" estão repaginados em tom cômico, com gigantescos olhos e aspecto juvenil - portanto, mangalizados!
Em algum lugar do passado as histórias em quadrinhos (enquanto "literatura") e o grafite (enquanto "pintura") estiveram fundidos sob a forma de pintura rupestre. De alguma forma os dois se separaram: inventaram-se os balões e os quadrinhos deixaram de ser "grafite"; extinguiu-se a arte seqüencial e o grafite deixou de contar alguma história.
Como hoje, mais uma vez, quadrinhos e grafite rendem-se a um mesmo tema (a "mangalização"), será que está distante o dia em que ambos conseguirão reatar (e contar) uma bela história?
Agradecemos ao vídeo de Dardanelos e às fotos do pessoal da Rupestre.