Grafite: O Paradoxo em Quadrinhos
quinta-feira, 28 de agosto de 2008 by Anônimo
Estas linhas têm origem em uma angústia, um desconforto absurdo ao não conseguir definir o gênero artístico ao qual pertence o grafite. Na verdade aconteceram-me sensações conflitantes.
Atravessando uma rua de Belo Horizonte, deparei-me com um painel mural enfeitado com as cores e os traços do grafite. Não era um único desenho, mas uma ilustração seqüencial. Se fosse uma seqüência de fotografias, projetadas através de luz, isso seria cinema. Mas não, a imagem lá estava achatada, impressa com matéria morta sobre matéria morta: mas viva! Não tinha dúvidas... aquilo era uma história em quadrinhos – mas como, se aquela história não tinha balões e nem “qua-dri-nhos”?! Era a “história em quadrinhos” da maneira que ela nunca deveria ter deixado de ser.
O termo “história em quadrinhos” deveria ser banido da língua. Isso, tendo-se em vista o passado e também, o futuro. O passado porque as histórias em quadrinhos mais contaram estórias do que histórias – ainda bem! (Considero louvável a estratégico propósito dos quadrinhos como veículo didático.) Fora os clássicos da literatura adaptados para os quadrinhos, ainda existem passagens históricas contadas por esse mesmo meio. A abolição do termo, visando ao futuro, explica-se pelo fato de que as páginas de quadrinhos tornaram-se coisas horrorosas.
Como considerar a HQ uma obra de arte (o tão almejado reconhecimento como a nona arte) se não analisarmos a obra como um todo? Esta tem uma diagramação muito mais técnica do que artística! Uma página de HQ convencional, bem ilustrada, mais parece um catálogo de leilão de quadros, onde as informações destes estariam equivocadamente sobrepostos às reproduções das obras na forma de balões e legendas. Tudo bem. Cada um dos quadrinhos é uma expressão artística. Mas uma HQ em si é apenas uma parede cheia de tijolinhos bonitos.
No cinema existe continuidade, harmonia entre cada um dos frames, entre cada uma das cenas, sincronia entre imagem e som. Os espaços em branco entre as ilustrações de HQs são como as legendas brancas (ou amarelas) que estragam a fotografia do filme e assim, enfraquecem sua diegese. Um filme é arte, artigo da sétima arte. Certamente um filme legendado deixa de sê-lo.
E ainda não falei dos balões. Quadrinhos sempre foram quadrinhos, pequenos quadriláteros. Mas os balões nem sempre foram os mesmos. Cenário, personagens, balões e suas letras se misturavam em uma única criação. Agora, a diagramação das comics peca ao tentar separar onde devem entrar as letras e onde devem se comportar as ilustrações. Não deveria ser assim.
Acredito que as histórias em quadrinhos tenham nascido SEM QUADRINHOS. Talvez a primeira historia “sem quadrinhos” tenha sido uma pintura rupestre. Talvez o fim da história “sem quadrinhos” tenha sido selado com a sistemática separação entre textos e ilustrações – e não com a mera divisão das seqüências em quadros.
Atravessando uma rua de Belo Horizonte, deparei-me com um painel mural enfeitado com as cores e os traços do grafite. Não era um único desenho, mas uma ilustração seqüencial. Se fosse uma seqüência de fotografias, projetadas através de luz, isso seria cinema. Mas não, a imagem lá estava achatada, impressa com matéria morta sobre matéria morta: mas viva! Não tinha dúvidas... aquilo era uma história em quadrinhos – mas como, se aquela história não tinha balões e nem “qua-dri-nhos”?! Era a “história em quadrinhos” da maneira que ela nunca deveria ter deixado de ser.
O termo “história em quadrinhos” deveria ser banido da língua. Isso, tendo-se em vista o passado e também, o futuro. O passado porque as histórias em quadrinhos mais contaram estórias do que histórias – ainda bem! (Considero louvável a estratégico propósito dos quadrinhos como veículo didático.) Fora os clássicos da literatura adaptados para os quadrinhos, ainda existem passagens históricas contadas por esse mesmo meio. A abolição do termo, visando ao futuro, explica-se pelo fato de que as páginas de quadrinhos tornaram-se coisas horrorosas.
Como considerar a HQ uma obra de arte (o tão almejado reconhecimento como a nona arte) se não analisarmos a obra como um todo? Esta tem uma diagramação muito mais técnica do que artística! Uma página de HQ convencional, bem ilustrada, mais parece um catálogo de leilão de quadros, onde as informações destes estariam equivocadamente sobrepostos às reproduções das obras na forma de balões e legendas. Tudo bem. Cada um dos quadrinhos é uma expressão artística. Mas uma HQ em si é apenas uma parede cheia de tijolinhos bonitos.
No cinema existe continuidade, harmonia entre cada um dos frames, entre cada uma das cenas, sincronia entre imagem e som. Os espaços em branco entre as ilustrações de HQs são como as legendas brancas (ou amarelas) que estragam a fotografia do filme e assim, enfraquecem sua diegese. Um filme é arte, artigo da sétima arte. Certamente um filme legendado deixa de sê-lo.
E ainda não falei dos balões. Quadrinhos sempre foram quadrinhos, pequenos quadriláteros. Mas os balões nem sempre foram os mesmos. Cenário, personagens, balões e suas letras se misturavam em uma única criação. Agora, a diagramação das comics peca ao tentar separar onde devem entrar as letras e onde devem se comportar as ilustrações. Não deveria ser assim.
Acredito que as histórias em quadrinhos tenham nascido SEM QUADRINHOS. Talvez a primeira historia “sem quadrinhos” tenha sido uma pintura rupestre. Talvez o fim da história “sem quadrinhos” tenha sido selado com a sistemática separação entre textos e ilustrações – e não com a mera divisão das seqüências em quadros.
Foi-se o tempo em que ao pronunciar seus discursos, os personagens de cartum “vomitavam” balões que pareciam emergir de suas gargantas. Hoje a coisa é mais “seca” – o personagem aparece de boca aberta e uma legenda, emoldurada com um recorte de balão aparece ao seu lado. No grafite não é assim. Mensagens, cores e formas se misturam de forma caleidoscópica. O grafite é um esboço do caminho que as histórias em quadrinhos devem percorrer ao fugir da lógica de mercado: rumo ao seu enaltecimento como obra de arte.