Mary Jane e o “machismo”


Mary Jane Watson sempre foi ruiva. Mas ela também já foi a Sra. Parker. Mary Jane já trabalhou como garçonete, modelo e atriz. Mary Jane já foi a garota dos sonhos de um super-herói adolescente. Como conseqüência, tornou-se sonho de consumo de todos os fãs desse herói, justamente por ter uma história pessoal icônica, de mulher desejada, de mulher-objeto.

Diferentemente dos pioneiros super-heróis, tais como Superman, Batman e Capitão América, portadores de grandes poderes e de grandes responsabilidades, coexiste ainda a problemática nerd no cotidiano do Homem-Aranha. O bullying era um problema freqüente para Peter Parker. Naturalmente, esse personagem não teria grandes habilidades para despertar a atenção de uma garota tão cobiçada como Mary Jane, a eterna Rainha do Baile.

Essencialmente Mary Jane era a garota que usava sua beleza para conseguir o que queria, tanto pessoal quanto profissionalmente. Chegou a namorar o quarterback Flash Thompson, em suas várias versões, muito mais atraente que o franzino Parker. Da mesma forma, para Mary Jane o alter-ego heróico de Peter Parker era muito mais desejado que a figura de Thompson. Ora, se Mary Jane é a típica mulher que procura um parceiro biologicamente eficiente para lhe dar uma prole saudável e ao mesmo tempo ter condições de manter o sustento da mesma, por que não pode ser desejada como são biologicamente desejadas as belas mulheres que assim são justamente para atrair a disputa de parceiros viris? É a ciência que define as mulheres assim, não este reles crítico.

A polêmica ilustração de Scott Campbell (AQUI) é criticada por recair na demasiada sexualização das mulheres nos gibis. O problema dessa argumentação é que Mary Jane foi criada como uma personagem sexy, ou seja, em momento algum houve “sexualização” dessa personagem, já que Mary Jane “nasceu” para “posar” nas HQs.

Em 2007 Mary Jane já havia sido motivo de outro discurso anti-machista. O alvo era um objeto colecionável cuja escultura representava a ruiva feliz da vida por ser “Amélia”. Novamente as fãs se esqueceram que o compromisso com a verossimilhança não pode ser uma obrigação do artista. A questão: Mary Jane, uma celebridade no universo ficcional da Marvel, com carreira muito mais sucedida do que a de Peter Parker, estaria se expondo ao ridículo ao “posar” para uma escultura vestida de forma sensual enquanto lava a roupa de guerra do maridão?

De forma alguma. Mary Jane é linda e desejável. Mas essa é a sua imagem. O que os textos dos quadrinhos falam sobre ela é o que a constrói no fim das contas. Vale dizer isso, pois ainda hoje muitos leitores de quadrinhos são na verdade, observadores de quadrinhos. Vêem as imagens, mas têm preguiça de ler os balõezinhos. A Mary Jane dos quadrinhos é perfeita, mesmo com seus defeitos. Ela é bem sucedida, não por ser bonita, mas por ser inteligente e bonita. Elas têm as armas que todas as mulheres querem ter e que todo homem que se preza quer que elas tenham. Olhar Mary Jane feminilizada como a gostosa do pedaço é o mesmo que fazer dela uma loura burra, algo que ela não é, independente de ser ruiva. Quem critica a imagem desejável de Mary Jane, faz o mesmo que fazem os que acham que uma mulher bonita que é presidente de uma grande empresa, só chegou a ser uma grande líder por ter belos quadris, grandes melões e um sorriso hipnotizante. Ora, tenham dó, as mulheres bonitas também podem ser inteligentes e continuarem sendo bonitas. Mais que isso, podem continuar sendo mulheres, aquelas que os homens querem ter a seu lado.

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