Todos Querem Ser Heróis.

Como o Superman perderá sua cueca

Por Pedro Paulo Siruffo e Reginaldo Soares

O mundo real das “Meninas Super Poderosas” é mesmo muito diferente do universo masculino dos “Ben 10”. Em algumas vezes é exatamente o extremo oposto. Enquanto nos contos de fadas com os quais elas sonham tudo termina com “e eles viveram felizes para sempre...”, para nós só é bom se termina em confusão. Se o mundo é assim para nós meninos (e eternos garotos mesmo depois dos 30), não seria diferente para os “superboys”. Pensando em um superboy que já é trintão, lembramos de “Smallville”, seriado que está para findar. Para muitos é uma espécie de “já vai tarde”. Para a maioria foi uma década revivendo bons e maus momentos do Superman nas HQ´s (e conhecendo momentos inéditos, tão bons ou ruins quanto aqueles outros).

O fim da evolução do Superboy para Superman significará apenas que o jovem Clark Kent está prestes a enfrentar os maiores desafios em sua vida meta-humana (numa trajetória que desafiará e, até mesmo, enganará a morte) os quais já vimos, lemos e relemos várias vezes e que por vários momentos foram citadas levemente durante a série. Do paralelo entre meninos e meninas, buscamos agora uma semelhança entre os gêneros “ele” e “ela”. Enquanto meninas do mundo todo (adultas ou não) aguardaram um ano inteiro na expectativa de vislumbrar um simples vestido de noiva que cobriu a senhorita, agora senhora, Kate Middleton, esposa do Príncipe William; meninos (independente da idade e do estado civil) têm aguardado longos 10 anos para flagrar o Superman afivelando o cinto de seu traje a rigor vermelho e azul.

A grande maioria desses meninos estará saciada só em testemunhar o maior dos super-heróis vestir seu uniforme pela primeira vez. Agora sim, o borrão rubro-azulado da novelinha tomará os devidos contornos, mais nítidos. Uma parcela significativa quer mais. Ou menos, dependendo do ponto de vista. Talvez muitos não se dêem conta de que este momento pode ser muito mais impactante para a figura folclórica do Super-Homem que para a carreira de Tom Welling. Tom não é o primeiro Superman e nem mesmo o melhor deles, mas se os produtores de “Smallville” forem calculadamente ousados, como têm sido ao longo desse projeto, teremos em Tom o primeiro Superman sem a cueca sobre as calças.

Isso mesmo, queridos: a previsão do BHQMais pode se cumprir. Já observamos que o uniforme que será vestido em “Smallville” é muito parecido com aquele criado para “Superman – O Retorno”, protagonizado por Brandon Routh. Isso é um tanto lógico, já que ambas as produções são franqueadas pela Warner Bros. A menos que um chefão executivo tenha “canetado” o veto quanto à atualização do traje do Azulão, não é possível que “Smallville”, que reestilizou a vestimenta de tantos heróis durante a jornada do último filho de Krypton, não se arrisque em passar a tesoura na parte mais criticada da beca azul. Pense bem, Arqueiro Verde, Cyborg, Impulso, o Caçador Marciano J'onn J'onzz, Aquaman... Todos foram destituídos da cueca em detrimento de um visual mais verossímil. E cá entre nós, se tiraram a sunga do Aquaman, um nadador por essência, por que não fazer o mesmo com o Superman?

Mais de uma vez, dissemos no BHQMais que a última grande contribuição de “Smallville” para a mitologia do Superman seria revolucionar seu uniforme. Agora, olhe mais uma vez para a foto divulgada do episódio “Prophecy”, penúltimo da série que vai ao ar no dia 06 de maio deste ano, na TV norte-americana. O uniforme do Superman de “Smallville” aparece encapsulado em um grande cristal. Mas o que interessa mesmo não é o que eles mostraram, mas o que eles escondem. O segredo está sob a capa do herói. Da forma como o traje está exposto, a capa dobra-se sobre as partes baixas do uniforme. Não seria para atrair a atenção para algo? Ou está tapando a vergonha da cueca vermelha, ou antecipa uma surpresa realmente impactante. Acreditamos que o novo uniforme ainda tenha algo de positivo a revelar...

Como nos contou Richard Donner, no clássico que marcou a carreira de Christopher Reeve, foi quando chegou aos 30 anos que Kal-El deixou de ser o filinho de Jor-El e voou para fora da Fortaleza da Solidão com o manto vermelho sobre as costas. Se no filme de 1978 ficou a impressão de que o uniforme do Super era um presente do paizão, a ideia que o seriado “Lois e Clark – As Aventuras do Superman” oficializou foi a de que mamãe Marta Kent foi quem desenhou o modelito mais azul entre os benfeitores de plantão. “Smallville” volta às origens e deixa claro que o supertraje é mais do que um presente de Jor-El. O que nós do BHQMais inferimos disso é a proposição de que a roupa é uma criação da ciência kriptoniana, que dará ao Superman mais que um tapa-sexo, uma arma para combater o mal. Pensamos que sem a cueca o novo uniforme deveria ser algo próximo da ilustração a seguir:

O traje de banho dá lugar a um detalhe em vermelho que continua o desenho das botas em tom sobre tom. O cinto passa a ser vermelho com detalhes em amarelo, fazendo remissão à cueca abandonada e ganha uma função, carregando cristais kryptonianos que permitiriam ao Superman criar diversos objetos, desde barricadas para proteger inocentes, a naves complexas para fugas rápidas no espaço. Alguns podem conter dados de pesquisa rápida sobre as 28 galáxias conhecidas ou rotinas de programação kriptoniana para ajudar a hackear sistemas de segurança de vários mundos. No vácuo, os cristais também podem criar um traje de proteção para que o Superman possa respirar e não ficar tapeando que mantém o fôlego preso por dias e falando pelos cotovelos ao mesmo tempo. O próprio traje tem uma função em si. O tecido kryptoniano contém uma pequena quantidade de chumbo, metal que era raro em Krypton, suficiente apenas para proteger de pequenas porções de kryptonita, mas não de grandes, já que precisamos manter a emoção do ponto fraco em Clark Kent. A capa recebe fivelas para prendê-la, garantindo que possa ser retirada facilmente para cobrir uma pessoa ferida ou com frio. Também permite se livrar no caso de ficar preso em alguma coisa, evitando o que aconteceu com o vilão Síndrome, de “Os Incríveis”, que acabou sendo sugado para o motor de um jato por causa da capa. Poderíamos até sugerir que as cores têm motivação científica, como o vermelho sendo capaz de bloquear parte da radiação da kryptonita vermelha e o azul como concentrador de raios ultra-violeta do nosso sol, aumentando a força regenerativa do Azulão.

A discussão sobre o uniforme é fútil? Cremos que não. Apresentar um ser imaginário como possibilidade real gera lucros para quem o criou. O mercado da mídia aprende com erros e acertos, como todos nós, uma vez que é conduzido por humanos. Tem sido assim com a Marvel, é assim com a DC Comics, e assim se seguirá. Desde a adaptação do Fantasma, de 1996, a cueca vem caindo com força. A partir de quando Wolverine perdeu o colante amarelo em “X-Men”, dirigido por Bryan Singer em 2000, as maiores editoras de quadrinhos têm logrado muitos sucessos de público e alguns de crítica ao produzirem adaptações cinematográficas críveis para os seus mais célebres personagens. A olhos vistos, uma aprendeu com a outra. Em 2005, “Batman Begins” chega ao ápice ao apresentar um herói menos carnavalesco, presenteado com um uniforme bastante funcional, pronto para uma guerrilha urbana. O novo Batman, dirigido por Christopher Nolan e estrelado por Christian Bale, serviu como divisor de águas para a forma como os desprovidos de super-poderes passariam a ser transportados para as telas dos cinemas. É quando o “Homem de Ferro” herda a proposta de uma armadura que evolui com o desenvolvimento da franquia. Da mesma forma, “Capitão América - O Primeiro Vingador” vai mostrar como Steve Rogers deixa de ser o herói fantasiado com pedaços da bandeira norte-americana, para ser um autêntico e combativo “super-soldado”.

Nessa caminhada evolutiva, apenas um lapso: o mesmo Bryan Singer que acelerou a atualização das vestes do bem deu um passo atrás e, como fã declarado, permitiu que Brandon Routh voasse por aí em “Superman – O Retorno” como se fosse uma vítima de Chuck Norris, com a cueca por cima da calça. O momento é esse. Ou será em “Smallville”, ou será em “Superman - Man Of Steel”, filme sob o comando de Zack Snyder mas que traz a assinatura de duas grandes figuras por trás do novo Batman: Chistopher Nolan e David Goyer. O Cavaleiro das Trevas já não passa vergonha com sua roupa há muito tempo. Veremos o que seu melhor amigo fará a respeito.