"Quem ri por último..."

O período era tenebroso para o personagem Batman. Desde o espalhafatoso seriado do morcego, dos anos 60, a imagem do valente embuçado pouco tinha de heróica. Ainda no período em que debutava a companhia do moleque bailarino Robin, Batman conseguia manter a seriedade digna de seu manto. Mas atravessar o Movimento Hippie trajado de roxo foi demais para o herói. Era necessário reformular uma lenda para que essa não caísse no esquecimento, o que não seria pior do que estar fadada à chacota.

Alguém salva Batman. E a ajuda não vem do Comissário Gordon, da Batmoça, do Robin ou do Superman. O novo herói é Frank Miller. Com a série “O Cavaleiro das Trevas”, Miller devolve ao Batman características que haviam sido apagadas de sua “certidão de nascimento”. Tudo culpa do código de censura norte-americano da época – os censores consideravam Batman um herói muito sorumbático, taciturno, perverso: a forma encontrada para amenizar essa pesada atmosfera do herói foi empurrar para os quadrinhos as molecagens do floreado Robin.

Simples e genial: a decisão foi devolver ao herói a tonalidade original de seu uniforme - o errôneo cinza-e-azul deu lugar ao que simplesmente PRETO. E quem pegou carona nessa fórmula de sucesso foi nada mais nada menos que o gótico Tim Burton. Nasceu a história de amor perfeita. Então o Batman dá a mão a Tim Burton bicuda a cuequinha verde do Robin. Não parecia haver combinação melhor. Tanto é que o próprio Bob Kane convidou Jack Nicholson e no cômputo geral de rendimentos, este recebeu nada menos do que 60 MILHÕES DE DÓLARES.

O Batman de Keaton parecia ótimo, mas o Coringa de Nicholson ficou perfeito! Se alguma comparação pode ser feita entre a interpretação do vilão de Nicholson e do Superman de Christopher Reeve (outro ator que redefiniu os padrões para o desenvolvimento de super-heróis no cinema – e ficou estigmatizado pela enorme identificação que criou com o personagem) é que Reeve era exatamente o Superman, mas Nicholson reinventou. O Coringa passou a ser Jack Nicholson.

Não é à toa que o ator das sobrancelhas empinadas ficou aborrecido com a escolha de Heath Ledger como o “Palhaço do Crime”. Vivemos o advento do boom dos quadrinhos. Todos querem ser heróis – e afinal de contas, é muito melhor ser o vilão – agora imagine ser um supervilão! Mesmo antes desta maratona de adaptações das comics para o cinema, tornou-se clássica a participação especial de artistas - outrora envolvidos com o desenvolvimento de clássicos personagens – na composição de novas obras ou mesmo em remakes. A lista é extensa: atualmente, em Smallville, temos o antigo Superman (Dean Cain) da série “Lois e Clark – As novas aventuras do Superman” contracenando com o precoce Superman (Tom Welling), que também dividiu a cena com o verdadeiro Superman (Christopher Reeve).

Talvez Jack Nicholson tenha ficado realmente puto porque mesmo em “seu” Batman, o “fantasma do Natal passado”, Bob Kane (notório é o pífio reconhecimento que a Warner Bros. –DC Comics – sempre desprezou ao criador de uma de suas mais importantes franquias) teve exclusiva oportunidade de dar pitacos durante a produção.

Mas Nicholson não pode ficar puto com Heath Ledger. Nicholson FOI o Coringa. O Coringa de uma década perdida. O Coringa caricato que se divertia em azucrinar um Batman poser – o Batman vestido com roupa de silicone - justamente o pai dos "Batiminhas" de Schumacher, com mamilos salientes. Afinal, qual a defesa que oferece uma roupa emborrachada? Talvez um Batman que tenha como inimigo um carnavalesco Coringa não precise mesmo de kevlar para se defender. A vantagem é que para dar umas bicotas, basta rasgar o manto e cair para a farra com a gata.

Licença poética não é licença para matar. Ah... e o Coringa foi criado para o quê? Para fazer rir o rei? Batman Begins nos trouxe o verdadeiro Batman. Um Batman que pode aparecer em qualquer beco, em qualquer viela, em qualquer grotão. A verdade é que o herói herda um vilão criado à sua imagem e semelhança. (É ação e reação, meu irmão – ou você ficava lendo revistinhas ao invés de ir às aulas de Física?!)

Quem ri por último ri melhor. E aqui deixo a minha aposta: este palhaço que rirá por último, será O MELHOR.


Cuidado, Jack! Ledger está armado com um exilir contra mal-olhado.

4 comentários:

    On sexta-feira, novembro 09, 2007 Anônimo disse...

    Sensacional!

    On sábado, dezembro 01, 2007 Anônimo disse...

    Jack Nicholson é o REI.. e ponto...

    On quarta-feira, agosto 06, 2008 Anônimo disse...

    Cada aparição do Coringa de Ledger é um chute no traseiro de Nicholson.

    HAHA

    E parece que o "elixir" de Ledger contra Nicholson não funcionou.

    Quando Nicholson afirmou "eu avisei", imagino que ele tenha jurado o o coringuinha de morte... ;-(

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